Rosário Gregolin Foto Shirley Penaforte |
Os efeitos de sentido
materializam-se nos textos que circulam em uma sociedade. Como o interdiscurso
não é transparente nem, muito menos, o sujeito é a origem dos sentidos, ninguém
consegue enxergar a totalidade significativa, nem compreender todos os
percursos de sentido produzidos socialmente. A coerência visível em cada
discurso particular é efeito da construção discursiva: o sujeito pode
interpretar apenas alguns dos fios que se destacam das teias de sentidos que invadem o campo do real
social. O efeito de coerência e unidade de cada texto é construído por
agenciamentos discursivos que controlam, delimitam, classificam, ordenam e
distribuem os acontecimentos discursivos em dispersão e permitem que um texto
possa “estar em relação com um domínio de objetos, prescrever uma posiçâo
definida a qualquer sujeito possível, estar situado entre outras perfomances
verbais, estar dotado, enfim, de uma materialidade repetível” (FOUCAULT, 1986).
A criação dessa ilusão de
“unidade” do sentido é um recurso discursivo que fica evidente nos textos da
mídia. Como o próprio nome parece indicar, as mídias desempenham o papel de mediação entre seus leitores e a
realidade. O que os textos da mídia oferecem não é a realidade, mas uma
construção que permite ao leitor produzir formas simbólicas de representação da
sua relação com a realidade concreta.
Na sociedade contemporânea, a mídia
é o principal dispositivo discursivo por meio do qual é construída uma “história
do presente” como um acontecimento que tensiona a memória e o esquecimento. É
ela, em grande medida, que formata a historicidade que nos atravessa e nos
constitui, modelando a identidade histórica que nos liga ao passado e ao
presente.
Esse efeito de “história ao vivo” é produzido pela instantaneidade da
mídia, que interpela incessantemente o leitor através de textos verbais e
não-verbais, compondo o movimento da história presente por meio da resignificação
de imagens e palavras enraizadas no passado. Rememoração e esquecimento fazem
derivar do passado a interpretação contemporânea pois determinadas figuras
estão constantemente sendo recolocadas em circulação e permitem os movimentos
interpretativos, as retomadas de sentidos e seus deslocamentos. Os efeitos
identitários nascem dessa movimentação dos sentidos.
Por isso, para Bauman (2006), a identidade é um efeito de pertencimento
que tem em sua raiz o paradoxo da instabilidade: os lugares contemporâneos são
permanentemente deslocados pelas máquinas de informação e, por isso, é
impossível fixar-se rigidamente em um território identitário único.
GREGOLIN,
Maria do Rosário. Análise do Discurso e
mídia: a reprodução das identidades. Revista Comunicação, Mídia e
Consumo, São Paulo, Vol. 4, No11 (2007).
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