Gostaria de mostrar,
por meio de exemplos precisos, que, analisando os próprios discursos, vemos se
desfazerem os laços aparentemente tão fortes entre as palavras e as coisas, e
destacar-se um conjunto de regras, próprias da prática discursiva. Essas regras
definem não a existência muda de
uma realidade, não o uso canônico de um
vocabulário, mas o regime dos objetos. ‘As palavras e as coisas’ é o título –
sério- de um problema; é o título- irônico- do trabalho que lhe modifica a
forma, lhe desloca os dados e revela, afinal de contas, uma tarefa inteiramente
diferente, que consiste em não mais tratar os discursos
como signos (elementos
significantes que
remetem a conteúdos ou a representações), mas
como
práticas que formam sistematicamente os objetos
de que falam. Certamente os
discursos
são feitos de signos; mas o que fazem é mais que
utilizar esses
signos para designar coisas.
É esse mais que os torna irredutíveis à
língua e ao ato da fala.
É esse ‘mais’que é preciso fazer aparecer
e que é
preciso descrever.
Michel Foucault em "Arqueologia do Saber"
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